Prevenção Para Mastite em Novilhas.

A prevenção de infecções intramamárias (IIM) em vacas de primeira lactação (primíparas) é um grande desafio em rebanhos leiteiros.

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A incidência de mastite durante os primeiros 40-60 dias pós-parto é normalmente mais alta em primíparas do que em vacas de ≥ 2 lactações. Além disso, há um aumento do risco de IIM à medida que o parto se aproxima. Isso ocorre pelo maior risco de abertura do canal dos tetos em razão do aumento da pressão intramamária por acúmulo de colostro. A ocorrência de mastite durante este período pode comprometer a produção de leite da vaca na lactação futura, e em alguns casos, durante toda a vida produtiva.

Nas primíparas, a maioria dos casos de mastite durante a primeira semana pós-parto está associada a infecções que iniciaram no período antes do parto. Apesar de não ser uma estratégia comum em rebanhos leiteiros, o uso de tratamento de vaca secas em novilhas reduziu a incidência de mastite clínica na lactação subsequente em comparação vacas não tratadas. No entanto, formulações para tratamento de vacas secas têm um longo período de ação antimicrobiana, e não devem ser administradas com menos de 45 dias da data prevista de parto, em razão do risco de resíduos de antibióticos no início da lactação. O uso de antibióticos com menor período de carência, por exemplo, formulações usadas para tratamento de mastite durante a lactação, pode ser uma melhor alternativa para reduzir o risco de resíduos no leite.

Outra estratégia de manejo eficiente para a prevenção de novas IIM durante o período seco é o uso de selantes de teto. Tais produtos atuam como uma barreira física que reduz o risco de invasão bacteriana pelo canal do teto. Selantes de tetos não possuem ação antimicrobiana e, portanto, não combatem IIM existentes. Desta forma, o uso somente do selante (sem a combinação com antibióticos) é recomendado para vacas de baixa CCS (<200.000 células/mL) e sem histórico de casos repetidos de mastite clínica na lactação anterior. Por outro lado, o uso de selantes tem um efeito protetor aditivo associado com antibióticos de vaca seca.

Vacas tratadas com selantes de tetos em combinação com antibiótico de vaca seca apresentaram menor incidência de mastite clínica e mastite subclínica na lactação seguinte em comparação a vacas que receberam apenas o antibiótico intramamário (cloxacilina 600 mg). Além disso, estudos conduzidos na Nova Zelândia indicaram que o uso de selantes antes do parto reduziu a incidência de IIM durante as três semanas antes e três semanas após o parto. Este último estudo foi conduzido com novilhas criadas em sistemas de pastagens.  De forma geral, novilhas criadas em sistemas de pastagem apresentam menor potencial de produção de leite em comparação a novilhas criadas em sistemas do tipo free-stall, as quais normalmente recebem uma dieta mais balanceada. Além disso, o risco de IIM pode variar de acordo com o sistema de alojamento do rebanho.

Um estudo recente realizado nos EUA avaliou o efeito da aplicação de selantes ou de antibiótico intramamário sobre a frequência de mastite (clínica e subclínica), produção de leite e fertilidade de 886 novilhas após o parto. Todas as novilhas foram selecionadas de um único rebanho e alojadas em um sistema do tipo free-stall. Ao completar 245 ± 3 dias de prenhez, as novilhas foram submetidas a um dos seguintes protocolos de tratamento: (controle) nenhum tratamento foi realizado; (selante) aplicação de selante interno de teto contendo 2,6 g de subnitrato de bismuto; (ATB) aplicação intramamária de 62,5 mg de amoxicilina; ou (ATB+selante) aplicação de amoxicilina associada com SIT. Todas as vacas foram monitoradas até 270 dias após o parto (aproximadamente 9 meses).

Um total de 509 amostras compostas de leite foram coletadas aos 7 ± 3 dias após o parto para cultura microbiológica. Não houve isolamento bacteriano em 94% das amostras coletadas. A frequência de patógenos causadores de mastite foi mais alta em vacas do grupo controle (17.1%) do que em vacas que receberam um dos três tratamentos: SIT (0%); ATB (9,1%); ATB+SIT (1,1%).

A probabilidade de ocorrência de mastite clínica foi 1,74 vezes menor em vacas do grupo ATB+SIT (12,9%) do que em vacas do grupo controle (21,4%). Por outro lado, não houve diferença significativa em relação à mastite clínica entre os grupos controle, ATB (21,2%) e SIT (21,6%; Figura 1). Os patógenos com maior prevalência nos casos de mastite clínica foram Streptococcus spp., seguidos de Escherichia coliKlebsiella oxytoca e Staphylococcus coagulase-negativa (SCN).

Casos de mastite subclínica foram definidos quando a vaca apresentou CCS >200.000 células/mL em pelo menos um dos testes realizados nos primeiros 9 meses de lactação. O risco de mastite subclínica entre os grupos avaliados foi: 43,8% para vacas do grupo controle; 40,8% para vacas do grupo selante; 33,2% para as vacas do grupo ATB; e 20,1% para as vacas do grupo ATB+selante (Figura 2). O protocolo ATB+selante reduziu em 0,34 vezes a probabilidade de mastite subclínica em comparação ao grupo controle. Além disso, o escore linear de células somáticas durante os primeiros 9 meses de lactação foi maior para o grupo controle (2,4) do que para os grupos ATB+selante (1,8) e ATB (1,9). Não houve diferença significativa no escore linear de células somáticas entre as vacas do grupo controle e SIT (2,2).

Apesar do efeito do tratamento com antibiótico (associado ou não com SIT) sobre o risco de mastite clínica e mastite subclínica, não houve diferença entre os tratamentos em relação à produção de leite: grupo controle (35,6 Kg); SIT (35,8 Kg); ATB (35,9 Kg); e ATB+selante (36,1 Kg). Da mesma forma, os tratamentos não tiveram efeito sobre a eficiência reprodutiva. A mediana do intervalo compreendido entre o parto e a concepção foi de 107 dias para as vacas do grupo controle, 110 (selante), 109 (ATB) e 103 (ATB+selante). Outros estudos relataram aumento na produção de leite em consequência da melhora da saúde da glândula mamária com o uso de antibióticos. No entanto, a prevalência de patógenos primários da mastite (ex., Staph. aureus) foi mais alta nesses estudos do que a observada no presente trabalho, em que a maioria dos casos de mastite subclínica foram causados por SCN. Patógenos secundários como SCN são menos patogênicos para a glândula mamária e, portanto, não estão associados a perdas significativas na produção de leite.

Em conclusão, o uso somente selante não foi eficiente para prevenir IIM de vacas primíparas em comparação ao grupo não-tratado. Por outro lado, o uso somente de antibiótico reduziu a CCS nos primeiros 9 meses de lactação. Os melhores resultados foram observados quando o antibiótico foi associado com selante, em que houve redução do risco de mastite clínica e mastite subclínica, e redução da CCS durante a lactação das vacas primíparas.

É importante salientar que o uso de antibióticos intramamários em novilhas antes do parto não é um protocolo descrito em bula; portanto, este tipo de terapia deve ser usado com cautela e sempre ter a supervisão de um médico veterinário. Além disso, os resultados desta prática podem variar devido a fatores associados com os rebanhos (ex., desafio ambiental e sistemas de alojamento). De forma geral, estratégias de manejo durante o período pré-parto devem ser realizadas quando >15% das novilhas apresentar mastite clínica durante o peri-parto, e/ou quando >15% delas apresentar média de CCS >150.000 células/mL no primeiro mês de lactação.

 

Fonte: Machado e Bicalho (2018). Journal of Dairy Science. 101:1388–1402. (https://doi.org/10.3168/jds.2017-13415).